Por Alexandre Gonçalves*
O uso de Inteligências Artificiais Generativas (IA Gen) como o ChatGPT já é uma realidade na redações de sites e portais, assim como de agências de notícias como a Associated Press. Não por acaso, grande grupos de mídia tem firmado acordos com a OpenAI, criadora do ChatGPT, não só para cessão de seus conteúdos para a base de conhecimento da IA, mas também para terem maior apoio no desenvolvimento de soluções para suas demandas jornalísticas.
Mas por causa de seu formato de bate-papo, o acesso ao ChatGPT dá autonomia para que veículos de menor porte possa usá-lo como assistente virtual para execução de diferentes tarefas, desde o planejamento de pautas até a revisão final de um texto, mas principalmente quando sites e portais têm pela frente o desafio de uma cobertura especial como é o caso das Eleições Municipais deste ano.
Por isso, preparamos este conteúdo para apresentar exemplos, benefícios e, principalmente as medidas e cuidados que o site ou portal devem adotar ao decidir pelo uso do ChatGPT. Mas antes, você fica sabendo um pouco mais sobre a ferramenta da OpenAI que colocou a Inteligência Artificial em pauta e aproximo milhões de usuários da tecnologia.
Lançado em novembro de 2022, o ChatGPT é uma Inteligência Artificial Generativa. Ou seja, um modelo de linguagem treinado para criar textos coerentes e contextualmente relevantes a partir de comandos fornecidos, imitando a maneira como os humanos escrevem e se comunicam. A ferramenta é oferecida na versão gratuita e na versão plus, com assinatura mensal de US$ 20 que proporciona uma série de vantagens, como maior rapidez nas respostas e melhor raciocínio.
No caso dos veículos de comunicação, outra vantagem da versão paga é o acesso ao construtor de GPTs customizados onde o usuário pode criar versão próprias do ChatGPT baseadas nas características e na rotina do seu negócio. Por exemplo, um site pode criar um GPT para revisão baseado em seu manual de estilo e redação.
Além disso, o assinante da versão plus também tem acesso aos GPTs criados por outros usuários (pessoas físicas e empresas) que estão disponíveis na GPT Store, que atendem diferentes tarefas, inclusive as relacionados ao dia a dia no jornalismo. Basta acessar e fazer uma busca. Por isso, recomenda-se aos sites e portais de notícias o uso de uma conta paga para ter acesso a mais funcionalidades.
Sabendo disso, de forma o ChatGPT pode ajudar na cobertura das eleições municipais de 2024? É o que você confere a seguir.
As eleições municipais de 2024 acontecem num momento em que o mercado de IA generativa está aquecido e será a primeira a contar efetivamente com o apoio de ferramentas como o ChatGPT já em estado bastante avançado em termos de qualidade nas entregas aos usuários – lembrando que na eleição de 2022, a IA da OpenAI ainda não havia sido lançada. Como a cobertura jornalística em períodos eleitorais costuma ser mais robustas – não por acaso a ServerDo.in desenvolveu um módulo especifico para o acompanhamento do pleito – contar com um assistente eficiente tende a ser necessário até porque as redações enfrentam o desafio de lidar com uma quantidade cada vez maior de dados e informações, sem perder do foco a qualidade e a agilidade.
Neste contexto, o ChatGPT consegue proporcionar trazer inúmeros benefícios para as redações, otimizando o tempo e os recursos dos jornalistas e melhorando a qualidade da informação oferecida ao público. Confira os principais.
Um dos principais desafios das redações durante as eleições é a necessidade de processar uma enorme quantidade de dados em tempo recorde. Pesquisas de intenção de voto, discursos, debates, notícias locais e nacionais, tudo precisa ser analisado e interpretado para oferecer uma cobertura precisa e relevante. O ChatGPT pode ser usado para processar esses dados de forma rápida e eficiente, destacando tendências, padrões e informações importantes que podem ser utilizadas pelos jornalistas em suas análises.
Por exemplo, ao lidar com pesquisas eleitorais, a ferramenta pode comparar dados históricos, identificar mudanças no comportamento do eleitorado e prever possíveis desfechos com base em padrões estatísticos. Isso permite que as redações ofereçam análises mais profundas e detalhadas, que vão além dos números brutos, ajudando o público a entender melhor o cenário político.
O mesmo tipo de análise pode ser feito na comparação entre planos de governo dos candidatos a prefeito. Basta enviar os documentos e estabelecer parâmetros para análise. Por exemplo, é possibilidade fazer o cruzamento das propostas para uma determinada área ou incluir resultados de uma pesquisa sobre interesses dos eleitores para extrair o que cada candidato propõe.
As redes sociais desempenham um papel central nas campanhas eleitorais modernas. Candidatos, partidos e eleitores utilizam plataformas como X (ex-Twitter), Facebook, Instagram e TikTok para compartilhar opiniões, fazer anúncios e debater temas relevantes. Monitorar esse fluxo constante de informações é uma tarefa complexa e demorada, mas essencial para entender como as campanhas estão ressoando com o público.
O ChatGPT pode ser empregado para analisar o sentimento das conversas online, a partir de dados reunidos pela equipe de jornalistas do veículo. A IA é capaz de identificar quais candidatos estão ganhando tração nas redes, quais temas estão mobilizando os eleitores e como o humor do público está evoluindo ao longo da campanha, pró, contra ou neutro em relação às propostas e ao desempenho dos candidatos. Com esses insights, os jornalistas podem desenvolver pautas mais aprofundadas e oferecer uma cobertura mais informada e contextualizada, que reflete as preocupações e prioridades dos eleitores.
Cobrir debates e discursos em tempo real é uma das tarefas mais desafiadoras para os jornalistas durante as eleições. A necessidade de transcrever, analisar e contextualizar as falas dos candidatos em tempo real requer atenção meticulosa e uma resposta rápida. O ChatGPT pode ser utilizado para transcrever e analisar essas falas em tempo real, identificando temas recorrentes, mudanças de posição e até mesmo possíveis inconsistências.
Por exemplo, durante um debate ao vivo, o ChatGPT pode transcrever as falas dos candidatos e destacar automaticamente os principais pontos discutidos, bem como as divergências entre os participantes. Ele também pode comparar as falas com discursos anteriores, identificando mudanças de postura ou contradições, fornecendo aos jornalistas material valioso para suas análises e reportagens.
Além de auxiliar na coleta e análise de dados, o ChatGPT pode ser uma ferramenta poderosa na produção de conteúdo. Com base nos dados processados, a IA pode sugerir estruturas de texto, identificar os pontos mais relevantes a serem destacados e até ajudar na redação de matérias e reportagens. Isso é particularmente útil em situações onde a demanda por conteúdo é alta e o tempo é curto.
A produção automatizada de textos pode incluir a criação de resumos de discursos, análises de tendências em redes sociais ou mesmo a elaboração de pautas baseadas em dados coletados e analisados pela IA. Isso não só agiliza o processo de produção de conteúdo, mas também garante que os textos produzidos estejam alinhados com as informações mais recentes e relevantes – mas atenção: todo conteúdo gerado pelo ChatGPT deve ser encarado como rascunho e precisa sempre da revisão humana ou do olhar crítico de um editor antes de sua publicação.
Embora as vantagens do uso do ChatGPT sejam evidentes e tentadoras, sua implementação nas redações não é isenta de desafios. O uso de IA na cobertura eleitoral exige uma preparação cuidadosa, tanto no que diz respeito ao treinamento das equipes quanto à criação de protocolos e diretrizes para garantir um uso ético e responsável da tecnologia.
Para que o ChatGPT seja efetivamente integrado à rotina das redações, é fundamental que os jornalistas e editores recebam treinamento específico sobre o uso da ferramenta. Este treinamento deve abranger o funcionamento básico da IA, suas capacidades e limitações, além de como identificar e corrigir possíveis vieses que possam surgir na análise dos dados.
O treinamento também deve incluir a familiarização com as melhores práticas para o uso do ChatGPT na produção de conteúdo, garantindo que a IA seja utilizada de forma a complementar o trabalho humano, e não substituí-lo. Os jornalistas precisam estar aptos a interpretar os resultados gerados pela IA, contextualizando e validando as informações antes de publicá-las.
A introdução do ChatGPT nas redações deve ser feita de maneira gradual e integrada à rotina já existente. Uma estratégia eficaz é começar utilizando a ferramenta para tarefas específicas, como a revisão de textos ou a transcrição de discursos, antes de expandir seu uso para outras áreas da cobertura eleitoral.
Definir fluxos de trabalho claros, onde a IA é utilizada para auxiliar em determinadas etapas do processo jornalístico, pode ajudar a otimizar os benefícios sem comprometer a qualidade editorial. Por exemplo, enquanto o ChatGPT cuida da análise de dados, os jornalistas podem se concentrar na interpretação desses dados e na criação de narrativas mais profundas e informativas.
A criação de um protocolo de uso e diretrizes éticas para o ChatGPT é fundamerntal para garantir que a ferramenta seja utilizada de forma responsável. A Associated Press, citada no início do texto,foi uma das primeiras agências no mundo a estabelecer as diretrizes de uso de IA na redação. E isso só reforça a importância de um protocolo que inclua regras claras sobre a forma de uso, a verificação dos dados gerados pela IA, a necessidade de supervisão humana constante e a responsabilidade editorial na publicação de informações processadas pela ferramenta.
Além disso, também é importante que as redações estabeleçam diretrizes para evitar o uso indevido da tecnologia, como a geração de conteúdos que possam induzir ao erro ou reforçar preconceitos. Outro problema que pode ser criado pela falta de um posicionamento do veículo é o uso individual do ChatGPT por parte de membros da redação sem qualquer indicação dos gestores sobre como deve ser feito.
Neste sentido, a criação de um comitê de ética ou de uma equipe responsável pela supervisão do uso da IA pode ser uma medida eficaz para garantir que o ChatGPT seja utilizado de acordo com os princípios jornalísticos e éticos da organização. Por isso, tem sido cada vez mais comum a discussão em torno da figura do Editor de IA nas redações com a função de centralizar todo o processo de implementação e uso de ferramentas como o ChatGPT no dia a dia do veículo.
Como se vê, a implementação bem-sucedida do ChatGPT nas redações exige uma preparação cuidadosa, que inclui o treinamento das equipes, a integração gradual na rotina de trabalho e o estabelecimento de protocolos claros e diretrizes éticas. Com uma abordagem responsável, o ChatGPT pode se tornar um recurso indispensável para os jornalistas, ajudando-os a oferecer uma cobertura mais completa e bem-informada das eleições, atendendo de forma mais eficaz às demandas do público por informações confiáveis e em tempo real.
A chave para o sucesso na adoção da ferramenta está na compreensão de que a melhoria contínua é essencial dentro um processo de apresendizado como ocorre na interação entre usuário e Inteligência Artificial. E no fim das contas, não falamos de tecnologia, mas de comunicação, na forma como se fazer entender pela “máquina”. É assim um assistente virtual como o ChatGPT pode ser tornar ainda mais eficiente no dia a dia das redações, especialmente em coberturas especiais como as eleições municipais de 2024.
(*) Alexandre Gonçalves é jornalista, fundador da agenteINFORMA – conteúdo e produtos digitais, e desde março de 2023 edita a newsletter agenteGPT, onde compartilha insights e sua experiência de usuário do ChatGPT.